
1- O que gera agressividade em uma criança?
No nosso mundo atual, percebe-se um aumento da falta da função paterna (que pode ser exercida pelo pai, pela mãe ou responsável). E com isso, a falta de limites, ou seja, crianças que os pais deixam fazer tudo, que não recebem um NÃO. O bebê precisa ser colocado no trono pela família, como definiu Freud “Sua majestade o bebê”, mas depois ele precisa ser destronado. O problema atual é que muitas crianças continuam a ser a rainha da casa, definindo o canal da televisão, o que querem comer, a hora que querem dormir, onde irão dormir… A criança precisa do limite para ser humanizada e se sentir cuidada e amada. Outro gerador de agressividade é quando a criança é vítima de maus tratos físicos (palmadas, surras com cinto…), maus tratos psicológicos (rejeição, insulto, ameaça…) e negligência (não cuidar, deixar sozinha em casa…), ou seja, dificuldades emocionais dos pais atrapalhando a educação de seus filhos.
2- O que é limite?
É aquilo que é proibido pelos pais, estabelecido por estes e colocados para os filhos através de diálogo. É importante deixar claro o SIM e o NÃO e sempre cumprir.
3- A agressividade é inata?
Já na maternidade percebemos como as crianças são diferentes. Umas mamam avidamente, choram com o desconforto e outras mamam bem devagar, raramente choram… Winnicott, um pediatra que depois veio a ser psicanalista, fez um longo estudo sobre a importância da agressividade no desenvolvimento infantil. Ela que nos faz reclamar, competir, não desistir. Todos temos instintos agressivos que precisam de limites dados pela educação. Mas são as experiências emocionais vividas no ambiente que deixarão a criança mais ou menos agressiva, para isto, é muito importante o estado emocional dos pais.
3- O que é castigo?
Castigo é uma punição. A punição pode levar a sentimentos de ódio, vingança, desafio, culpa, falta de valor e auto piedade. Muitos autores referem que, ” o castigo não soluciona nada, é uma distração, que em vez de o filho se sentir chateado pelo que fez e refletir sobre como poderia melhorar, ele se preocupa com fantasias de vingança”. Em outras palavras: “ao se castigar uma criança, na verdade a impedimos de um processo interno muito importante de enfrentar o seu próprio mau comportamento”. (Faber, A & Mazlish, E. Como Falar Para o Seu Filho Ouvir e como Ouvir Para o Seu Filho Falar, p. 113)
4- Como dar limites sem dar castigo?
É mesmo muito difícil colocar limites em uma criança. Para que a criança compreenda o limite e ele seja efetivo:
– Descreva o problema ao invés de culpar ou mandar. Exemplo: Filho, a água da pia está quase transbordando! Ao invés de: Você é um irresponsável, sempre se esquece de fechar a torneira!
-Dê uma informação ao invés de acusar ou insultar. Exemplo: Filho! O leite azeda se ficar fora da geladeira. Em vez de: quem bebeu o leite e não guardou na geladeira? É muito mais fácil aceitar um limite dado em forma de informação do que de acusação.
-Fale com poucas palavras. Exemplo: Crianças! Pijama! Ao invés de: estou sempre pedindo e pedindo que vocês coloquem os pijamas e tudo o que vocês fizeram até agora foi continuar a fazer palhaçadas. Vocês prometeram que antes de ver TV vocês vestiriam os pijamas. Só que eu não estou vendo nenhum sinal daquilo que foi prometido.
– Fale sobre seus próprios sentimentos. Exemplo: Eu estou cansada para fazer você dormir, e eu fico muito brava quando estou cansada. Em vez de: você é um chato, sempre importunando na hora de dormir!
– Às vezes é necessário utilizar a palavra escrita para ser mais efetivo o limite. Exemplo: Este foi usado por uma mãe que trabalha fora. Ela colou na TV. ANTES DE LIGAR ESTE APARELHO, PENSE: JÁ FIZ MINHAS TAREFAS?
5- Exemplos de como dar limites para uma criança que não está se comportando bem em um supermercado, evitando o castigo, do menor ao maior grau de limite:
5-1 Mostrar como a criança pode ser útil ao fazer outra coisa: Você pode me ajudar a escolher os melhores limões? No lugar de: Você vai apanhar quando chegar em casa.
5-2 Expresse sua desaprovação: Não estou gostando, crianças correndo no corredor incomodam as pessoas. No lugar de: Você parece um animal no supermercado. Não vai tomar este sorvete que estou comprando.
5-3 Dê alternativas: Filho! Nada de correr! Você pode escolher entre me ajudar a fazer as compras ou ficar sentado no carrinho. No lugar de: se eu pegar você correndo de novo vou te bater.
5.4 Se ainda assim ele continuar atrapalhando suas compras, recorra à ação (ou retire ele do ambiente e contenha): Vejo que você escolheu ficar sentado no carrinho, no lugar de bater.
5-5 Deixe seu filho arcar com as consequências dos seus atos: Mãe, posso ir ao supermercado com você? Hoje não. Por que não, mãe? Me diga você, filho. Porque eu corri no supermercado da última vez? Adivinhou! Desculpe mãe. Me dê uma chance. Você a terá, mas hoje vou sozinha.
6- Como devo agir para ajudar o meus filho quando está bravo?
Há muitas formas de ser compreensiva com os sentimentos de seu filho e ajudá-lo para que se sinta melhor. É muito importante ouvi-lo com toda a atenção, pois é muito irritante falar com alguém que só diz que está ouvindo. Muitas vezes a criança precisa de um silêncio compreensivo, necessita ser escutada. Parece fácil, mas esta qualidade é bem rara em muitas pessoas atualmente.
Depois, não faça perguntas ou dê conselhos, deixe a criança falar. A criança tem dificuldade de pensar de forma clara ou construtiva quando alguém fica perguntando, culpando ou dando conselhos.
Ao invés de negar seus sentimentos, dê nome ao que seu filho esta sentindo. Ensine-o a nomear seus próprios sentimentos. Você já notou que quando pedimos, mesmo com delicadeza, que a criança não dê importância a um sentimento desagradável, ela só fica mais chateada? Os pais têm medo de ao nomearem um sentimento ruim, a criança vá piorar, mas é o contrário. Ela fica profundamente confortada quando ouve as palavras do que está vivenciando. Alguém reconheceu seu mundo interno!
Estas são formas de acolher os sentimentos de seu filho e ajudá-los a não ficarem confusos e irritados. Todos os sentimentos das crianças devem ser aceitos, mas certas ações devem ser limitadas. Exemplo: “Estou vendo que você está com muita raiva de seu irmão. Diga a ele o que você quer com as palavras e não com os punhos”.
A infância é o período de formação da personalidade. Para uma criança crescer segura, com uma boa auto estima, ela precisa ser amada, desejada, acarinhada e cuidada. E isto só acontece quando ela tem limites.
“O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: se eu fosse você. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não escuta que ele termina. Não aprendi isto nos livros. Aprendi prestando atenção”. (Rubem Alves)
Psicóloga especializada em crianças e adolescentes
Psicanalista